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sábado, 19 de junho de 2010

A MANGUEIRA DO BARÃO

Por: Alínio Silva do Nascimento

Janeiro é o mês de aniversário do Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Já se vão mais de 90 anos e milhares de crianças que receberam ali as primeiras lições no longo caminho do aprendizado. Não sei se meu nome ainda consta na secretaria do Barão, ou se existem arquivos, pois li no Livro “Memórias” de nosso conterrâneo e ex-aluno Aldo Medeiros, (ótima leitura para quem gosta de preservação de nossas coisas) que grande parte de seu acervo foi vendida para ser utilizada como papel de embrulho para barras de sabão, (Página 65). Alem de estabelecimento de ensino, o prédio do Barão foi cenário de muitos acontecimentos sociais, políticos e artísticos. Em seu palco aconteceram seções inesquecíveis do Tribunal do Júri, onde se travaram debates memoráveis entre Promotores de Justiça e Advogados de defesa, sempre com o auditório lotado, uns admirando os debates pelo alto nível intelectual com que cada um expunha suas teses; outros não entendiam nada, mas esperavam que a Justiça prevalecesse e havia ainda outros torciam, fazendo apostas em várias modalidades: absolvido ou condenado e neste caso, de quantos anos seria a pena. Nas eleições que aconteceram desde sua inauguração, suas salas abrigaram secções eleitorais e no seu palco, as contagens dos votos. Ali, as expectativas e angústias dos candidatos não impediam que o respeitável público desse muitas risadas com as piadas que alguns eleitores escreviam nas chapas eleitorais e eram lidas em voz alta pelo Juiz. As apostas ali também corriam soltas. Muitos espetáculos teatrais foram encenados em seu palco, quer por grupos amadores locais, comandados por um ex-aluno chamado Itan Pereira, que mais tarde foi Reitor da Universidade Federal de Campina Grande – quer por “troupes” profissionais que percorriam o país com suas peças, em um tempo em que ainda não tinham sido inventadas as novelas de Televisão e esta era privilégio de poucas Capitais. O baile da Festa de Janeiro até meados dos anos 50, acontecia em seu salão nobre, com orquestras famosas vindas especialmente de Recife, João Pessoa ou Natal. Escrevi “o baile”, no singular, porque realmente era o único durante a festa, dia 20, após o encerramento das festividades religiosas. A festa seguinte era o carnaval, quando os confetes e serpentinas enfeitavam seus salões embalados por boas orquestras e o cheiro inesquecível do lança-perfume neutralizando a inhaca exalante de cada sovaco. As férias eram em junho e coincidiam com a maior das festas daquela época. Quem não se lembra de seu Felino Bezerra comandando as danças de quadrilhas nas festas juninas ou dançando com Dona Francisca uma valsa? O salão se tornava pequeno, mas todos os outros casais paravam, cediam seus espaços e ficavam admirando o espetáculo de harmonia e majestade que aquele casal apresentava. Era o ponto máximo das festas juninas que todos os anos aconteciam no Barão. Nos finais de ano, seus salões se engalanavam para as solenidades de entrega dos diplomas aqueles que concluíam a primeira etapa da jornada no caminho do aprendizado formal. Ensaios, paraninfos, orador da turma, tinha um hino assim: “Dizendo tristemente adeus/A minha escola vou deixar/Adeus colegas que aqui ficam/Adeus escola que vou deixar.//Quando lá bem distante/Da terra onde nasci/Recordarei saudoso/A boa Escola onde aprendi”. Com locução de Durval Buriti, autoridades civis, militares e eclesiásticas compunham a mesa que dirigia os trabalhos, proferiam discursos e posavam pacientemente para os retratos, que demoravam porque a cada foto Heleno Dantas tinha que trocar a lâmpada do “flash” com a ajuda de um pedaço de pano, pois ao espocar, o bulbo atingia uma temperatura próxima dos cem graus Celsius. Terminava sempre com um baile até o dia amanhecer. O Barão abrigou também as primeiras escolas de segundo grau da cidade: a Escola Normal Regional com suas normalistas vestidas de azul e branco, trazendo um sorriso franco para o período vespertino; à noite, o Curso Comercial Básico que vestia uniforme marrom e lhe valeu o apelido de “franciscanos”. Segundo relato do Doutor Anastácio Pereira, ex-aluno, Professor Doutor em Agronomia e Diretor da Escola Agronômica de Araia-PB, o Governo do Estado não gastou nenhum centavo para erguer o prédio, alegando já ter construído aquele na Avenida Doutor Mauro Medeiros, (ex-aluno) onde hoje funciona a Prefeitura Municipal, mas com apenas duas salas, não comportava mais a demanda de alunos. O terreno foi doado por Antão Eliziário Pereira, enquanto os materiais de construção e as despesas de mão de obra foram custeados pela Prefeitura, por fazendeiros, comerciantes e demais empresários do Município. Havia à esquerda de quem entra pelo portão principal, uma mangueira que deve ter morrido de tão velha, pois, ainda segundo o Dr. Anastácio, serviu de baliza zero para o topógrafo locar o terreno onde foi erguida a obra e de tal forma, que permaneceu como parte integrante da paisagem. À sua sombra, todos os dias na hora do recreio se postavam os vendedores de pirulitos, cocadas, puxa-puxa, alfenim, roletes de cana, confeitos e outras iguarias. Aproveito agora este espaço que o “www.parelhas.net” me concede para fazer uma sugestão à atual direção do Barão: providenciar junto ao viveiro de mudas, a reposição daquela mangueira, no mesmo local, como um ícone de uma campanha de conscientização, a partir das crianças que ali estudam, para a preservação da natureza. Poderia ser realizada uma solenidade, quando se plantaria uma nova mangueira, com a presença dos alunos, autoridades civis, militares, eclesiásticas, ex-alunos e funcionários, para que cada um assuma o compromisso de se tornar um guardião dessa árvore, como símbolo de respeito à Natureza e ao término de seu curso, transferir essa missão para os novos alunos que estarão chegando, de forma a se tornar a mascote do nosso Grupe Escolar Barão do Rio Branco. Tenho certeza de que bons frutos se colherão.

São Bernardo do Campo, janeiro de 2010


FONTE - PARELHAS.NET

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